Precisamos nos mover

Precisamos nos mover

Em 1927 o físico alemão Werner Karl Heisenberg formulou, com apenas 26 anos de idade, a teoria da incerteza, que lhe trouxe o Prêmio Nobel de Física cinco anos depois. Nesse tratado, que alterou a história, estabeleceu os princípios da física quântica e com ela a energia nuclear, a bomba atômica. Em sua teoria, ele enunciou: “A transição do ‘possível’ para o ‘atual’ ocorre durante o ato da observação”. O mundo ao nosso redor se altera ao olhar do observador.

Trazendo para a atualidade esse pensamento, ao observar os danos causados pelo furacão IDA que atingiu Nova York e Nova Jersey no último final de semana, o presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, declarou: “A nação e o mundo estão em perigo. Isso não é uma hipérbole. É um fato. Temos que mudar. Precisamos nos mover”. Certamente sem pensar na teoria da incerteza, mas movido por esse princípio que rege a vida no planeta Terra, o governo americano agiu. Em comunicado oficial na última quarta-feira (08/09/21), a secretária de Energia do governo americano, Jennifer Granholm, anunciou um plano para produzir 40% da eletricidade do país até 2035 com energia solar fotovoltaica. Como efeito colateral, a medida espera gerar mais de 1,5 milhão de novos empregos. Tudo isso sem aumentar os preços da energia elétrica.

Hoje os painéis solares fornecem 74 gigawatts (GW) nos EUA, equivalente a apenas 3% da potência instalada. Com esse plano, Biden atesta o seu comprometimento em reduzir os combustíveis fósseis ligados à mudança climática.

Aqui no Brasil, no último 23/08/21 a ABSOLAR anunciou que chegamos à lista dos 15 países com maior potência instalada em painéis solares, ultrapassando a marca de 10 gigawatts (GW). Nesse montante estão incluídas as usinas de grande porte e os pequenos/médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos, da geração distribuída (dados ANEEL e IRENA – Agência Internacional para Energias Renováveis – www.irena.org).

A geração de energia solar fotovoltaica representa no Brasil 1,7% da capacidade instalada. De acordo com o PDE 2030 – Plano Decenal de Expansão de Energia, do Ministério de Minas e Energia, publicado pela Portaria Normativa 02/GM/MME em 25/02/21, chegaremos em 2030, em cenário promissor, a 5 % da matriz atendida por painéis solares.

A energia solar evita a emissão de CO2, atrai investimentos e gera empregos. No Brasil desde 2012, 11 milhões de toneladas de CO2 deixaram de ir à atmosfera. Mais de R$ 52,7 bilhões em novos investimentos e mais de 300 mil empregos acumulados, segundo a ABSOLAR (www.absolar.com.br). Em momentos como agora, com racionamento de energia e risco de apagões, o governo brasileiro precisar “se mover”, acelerar o passo, “fazer a transição do possível para o atual” como disse Heisenberg. Estamos diante de uma grande ameaça para a retomada da economia. O Brasil possui uma posição geográfica privilegiada que lhe confere um dos maiores potenciais do planeta em radiação solar, ventos e produção de biomassa. Depois de dois racionamentos (1987 e 2001) ainda não aprendemos a dar conta de nossas necessidades energéticas!

Os sistemas fotovoltaicos representam o que há de mais promissor para a geração de energia sustentável no planeta. Associado a sistemas de armazenamento com baterias e produção de hidrogênio verde, o sol é estratégico como vetor de crescimento para todos os países, quiçá para o Brasil ensolarado. Fica a pergunta: será que os norte-americanos estão errados ao planejar um país com 40% da energia através de fonte solar, estando com todo seu território no hemisfério norte e acima do Trópico de Câncer?

*Luiz Carlos Lima é engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica

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